Putin propõe retomada de negociações com a Ucrânia para 15 de maio, em Istambul, visando acordo duradouro
Em um movimento que reacende os holofotes sobre possíveis soluções diplomáticas para o conflito no Leste Europeu, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, declarou neste domingo a intenção de reiniciar conversas diretas com o governo da Ucrânia. A proposta é que o encontro aconteça em Istambul, na próxima quinta-feira, 15 de maio. O objetivo, segundo o próprio líder russo, é alcançar não apenas uma trégua temporária, mas um caminho que leve ao fim definitivo das hostilidades e trate as causas estruturais que deram início à guerra.
Desde o início da invasão russa em fevereiro de 2022, a guerra já causou centenas de milhares de mortes entre militares e civis, provocando a maior crise entre Moscou e o Ocidente desde os tempos da Guerra Fria. Em pronunciamento direto do Kremlin, Putin afirmou que a proposta de negociação não impõe condições prévias à Ucrânia. “Estamos preparados para retomar o diálogo direto sem exigências iniciais. Nossa proposta é clara: queremos restaurar uma paz verdadeira e permanente, não apenas uma pausa estratégica no conflito”, afirmou o presidente russo.
Putin também comunicou que entraria em contato com o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, ainda neste domingo, para discutir as formas práticas de facilitar a mediação nas negociações. Ele reforçou que a disposição russa para o diálogo permanece ativa, e que a decisão agora está nas mãos de Kiev e de seus aliados ocidentais. “Colocamos a proposta sobre a mesa. Cabe agora às autoridades ucranianas e aos seus apoiadores internacionais decidirem se irão agir em favor do povo ou em nome de suas ambições políticas”, completou.
Até o momento, não houve resposta oficial por parte da Ucrânia à nova proposta russa. Putin aproveitou para relembrar que o Kremlin já havia sugerido diversas pausas nos combates – incluindo tréguas durante a Páscoa, moratórias contra ataques a instalações energéticas, e até um cessar-fogo de três dias durante as celebrações dos 80 anos da vitória soviética na Segunda Guerra Mundial. No entanto, ele acusa Kiev de ter desrespeitado todas essas iniciativas. Segundo o presidente russo, durante a última trégua, as forças ucranianas realizaram mais de 500 ataques com drones e lançaram diversos mísseis fornecidos pelo Ocidente, além de tentarem incursões terrestres em território russo.
A Ucrânia, por sua vez, já acusou a Rússia inúmeras vezes de quebrar seus próprios cessar-fogos e, no sábado anterior, os principais países da União Europeia pressionaram Moscou a aceitar uma trégua de 30 dias. Caso contrário, advertiram, novas sanções econômicas de larga escala seriam implementadas. Putin, entretanto, refutou o que chamou de “ultimatos disfarçados”, reiterando que o Kremlin não aceitará ser coagido por exigências unilaterais.
O presidente russo reafirmou também os termos exigidos por Moscou para considerar o fim do conflito: entre eles, o abandono das intenções ucranianas de aderir à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e a retirada total das tropas de Kiev das quatro regiões reivindicadas pela Rússia no leste da Ucrânia. Paralelamente, autoridades russas indicam que aceitam a neutralidade de Kiev em relação à União Europeia, desde que isso não represente ameaça ao controle russo sobre parte do território ucraniano.
Putin mencionou um acordo preliminar negociado em 2022 que previa a neutralidade permanente da Ucrânia, em troca de garantias de segurança por parte dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU – Estados Unidos, Reino Unido, França, China e a própria Rússia. De acordo com ele, foi a Ucrânia que interrompeu as tratativas, não Moscou. “Estamos prontos para retomar as conversas, sem qualquer exigência inicial”, afirmou Putin, que também agradeceu aos esforços de mediação de países como China, Brasil, nações africanas e árabes.
Nos Estados Unidos, o ex-presidente Donald Trump voltou a se posicionar como defensor do fim imediato da guerra, prometendo atuar como mediador caso retorne à Casa Branca. Já o atual presidente Joe Biden, assim como os principais líderes europeus, mantém o apoio total à Ucrânia, denunciando a invasão como uma tentativa de anexação territorial baseada em conceitos ultrapassados de imperialismo.
Por fim, Putin descreveu a guerra como um divisor de águas na relação entre a Rússia e o Ocidente. Segundo ele, desde o colapso da União Soviética, os países ocidentais vêm humilhando Moscou ao expandir gradativamente a OTAN para regiões historicamente ligadas à esfera de influência russa – sendo a Ucrânia o ponto mais sensível dessa disputa geopolítica.