Veja o que fazer com os seus investimentos após a Selic subir para 15%

Assim como os economistas se mostravam divididos sobre o destino da Selic antes da decisão do Copom, os gestores também se mostram divididos sobre como investir neste momento

Há indicações de investimentos para todos os gostos, dependendo das expectativas dos para os juros, a inflação e a economia de cada um. Alguns gestores recomendam aumentar a alocação em ações brasileiras, para surfar a onda dos investidores estrangeiros entrando na bolsa. Além disso, eles esperam que a redução da Selic no futuro aumente a atratividade da bolsa e contribua para ela subir.

Já outros preferem a renda fixa agora, argumentando que ela continuará oferecendo remunerações muito altas, embora menores, e com pouco risco. Segundo esses gestores, dificilmente as ações renderão tanto a ponto de compensarem os riscos de investir agora, que ainda são grandes.

O Copom deve manter a Selic parada em um nível alto por um longo período, mas há dúvida de quando eles começarão a cair exatamente. Será já no fim deste ano ou apenas no próximo? E até que nível a Selic vai?

A mediana dos economistas espera que os juros recuem para o 14,75% ao ano até o fim de 2025 e sejam reduzidos para 12,50% ao ano até o fim de 2026, apontou o Boletim Focus desta semana, apresentado antes da comunicação do Copom desta quarta-feira (18).

Apesar dos elevados juros, João Piccioni, diretor de investimentos da gestora de fundos Empiricus Asset, aconselha os investidores com perfil mais arriscado a aumentar a exposição às ações brasileiras, comprando um ETF (fundo negociado em bolsa) de Ibovespa ou um fundo de ações. A casa começou a investir mais em bolsa dentro dos seus fundos há poucas semanas e sugere que as pessoas físicas façam o mesmo movimento, apesar delas já terem perdido a janela inicial de alta das ações.

O Ibovespa já subiu mais de 15% neste ano, com a ajuda dos estrangeiros, que estão procurando remunerações mais altas do as da bolsa dos Estados Unidos. Piccioni acha que os estrangeiros seguirão impulsionando as ações, inclusive se os juros demorarem para começar a cair no Brasil.

“As ações brasileiras vão subir mais ainda. Qualquer redução de risco no exterior e a manutenção da realocação global será suficiente para seguir empurrando a bolsa”, afirma. “Os estrangeiros estão investindo mais nos mercados emergentes e desenvolvidos além dos Estados Unidos, frustrados com as remunerações dos segmentos mais maduros da bolsa americana”, diz.

Na análise de Piccioni, as ações brasileiras podem subir também porque os gestores locais estão vendo na possibilidade de mudança de governo, na eleição de 2026, uma chance de ganhar com os investimentos em renda variável. A ideia dos gestores é que um governo mais comprometido com o controle dos gastos pode ajudar a inflação a se manter mais estabilizada. Como consequência, os juros podem ser reduzidos e isso incentiva as aplicações em bolsa.

E na renda fixa?

Já Marcelo Bacelar, gestor de portfólio da gestora de patrimônio Azimut Brasil Wealth Management, não indica comprar ações brasileiras neste momento, porque a renda fixa está oferecendo rentabilidades muito boas. Ele acredita que o investidor tem chance de ganhar mais na renda fixa, correndo menos risco.

Na avaliação de Bacelar, as companhias devem entregar piores resultados, sofrendo as consequências do Banco Central aumentar os juros com o objetivo de desacelerar a economia e reduzir a inflação. Nesse ambiente, a bolsa pode não subir tanto quanto o esperado.

Na renda fixa, as suas aplicações favoritas neste momento são os papéis prefixados à venda no Tesouro Direto, com prazo de vencimento mais curto. Eles estão oferecendo taxas de quase 14% ao ano. Nos cálculos do gestor, a inflação tende a recuar mais do que o mercado está esperando agora e o investidor tende a ganhar mais dinheiro comprando esses papéis do que os títulos que acompanham a inflação.

“O Banco Central deve parar de subir os juros e, quando isso acontece, é um bom momento para o investidor aproveitar os juros oferecidos nos papéis prefixados antes que eles caiam”, afirma. Vale uma observação importante aqui: aqueles que não esperarem o prazo de vencimento para resgatar o dinheiro correm o risco de perder dinheiro. Assim, esses papéis são recomendados para prazos mais longos.

Bacelar gosta também dos papéis que acompanham a Selic à venda no Tesouro Direto. Eles estão pagando muito mais que a inflação e devem continuar assim, inclusive se os juros começarem a cair. E podem ser resgatados a qualquer momento sem correr riscos de perder dinheiro.

Atualmente, o gestor prefere os títulos à venda no Tesouro Direto do que o crédito privado (títulos emitidos pelas companhias, que o investidor pode comprar diretamente ou investir por meio de fundos). Ele considera que o crédito privado está pagando juros baixos em relação ao risco que oferece de dar calote.

Raphael Vieira, co-responsável por investimentos da gestora de patrimônio Arton, acha que, com os juros da renda fixa altos como estão, é natural que os investidores não estejam dispostos a se arriscar em ações neste ambiente. Ele não recomenda aumentar a alocação em bolsa, nem começar a investir neste momento cheio de incertezas e com a renda fixa oferecendo remunerações tão atrativas.

“O chamado prêmio de risco das ações deve ser muito alto para o investimento se justificar. Mas tem vários riscos no radar”, afirma. “Tem o risco do fluxo global não continuar e o da eleição não ter o resultado que o mercado espera. O mercado está antecipando a eleição de uma terceira via,algum candidato com potencial de sair da dualidade e ser mais comprometido com o controle de gastos, mas não temos nada confirmado ainda”, diz.

Segundo Vieira, um dos melhores investimentos atualmente são os papéis de renda fixa que acompanham o CDI ou a Selic, que vão render um pouco menos quando os juros começarem a cair, mas ainda estarão atrativos.

Além deles, ele sugere os títulos que acompanham a inflação do Tesouro Direto para investir por prazos mais longos. Esses investimentos estão oferecendo perto de 7% ao ano mais a inflação, mas o investidor também pode perder dinheiro caso resgate o valor investido antes do prazo de vencimento.

“Gostamos da proteção para possíveis novos ciclos de inflação e dos juros reais [que descontam a inflação] muito altos”, afirma. “Mas preferimos os títulos de prazo mais curto, que são de menor risco”, diz.

Vieira aconselha comprar papéis no Tesouro Direto ou emitidos por bancos grandes, mais seguros do que os emitidos por bancos médios ou pequenos, mais suscetíveis a quebras. “Não gostamos de risco de crédito bancário. Investir em títulos de diversos bancos é arriscado porque os bancos podem sofrer solavancos e os retornos não compensam quando consideramos o tempo de pagamento do Fundo Garantidor de Crédito”, afirma.

O chamado FGC garante de volta até R$ 250 mil por banco se a instituição quebrar em investimentos emitidos por bancos, como os Certificados de Depósitos Bancários (CDBs), mas o dinheiro não cai na conta instantaneamente.

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